Li num guia turístico que o prato típico do Paraná é o barreado. Bem feito para nós! Temos com referência de nossa gastronomia um prato que metade dos paranaenses nunca provou. A receita é simples, carne de segunda, fervida em pote de barro até desfiar e acompanhada da preguiça: farinha de mandioca –crua, sem torrar – e banana cozida (um horror!). Isso sem contar o nome “barreado”, feio pra dedéu e que tira o apetite de qualquer um que tenha amor ao estômago.
Quem elegeu este prato como típico desconhece o Paraná, ou está de brincadeira com a gente. Creio que a primeira hipótese é mais provável, é desconhecimento mesmo. Em conversa com meus alunos, professores, colegas jornalistas, fico abismado como as pessoas conhecem muito pouco de nosso estado. Aqui em Curitiba, com poucas exceções, conhece-se apenas o próprio umbigo, que pode se estender de São Paulo às praias de Santa Catarina.
O Norte do Paraná e outras regiões praticamente inexistem, são coisas distantes, que figuram no discurso dos políticos, nos livros de geografia, mas jamais pulsam como deveriam no coração de quem apenas leva o gentílico de paranaense. Somos um estado que, como já disse em outros textos, se apresenta divido em pelo menos três outros. Não são somente os três planaltos e o litoral que nos colocam em distanciamentos. Não são as serras e chapadas que nos separam. São as culturas ímpares que nos tornam paranaenses diferentes. Exemplo disso é quando viajamos para outros lugares do Brasil. As perguntas são: “Você é gaúcho? Catarinense? Mineiro? Paulista? Curitibano?” – Mas jamais, alguém nos pergunta se somos paranaenses.
Está certo que somos um estado recentíssimo. Algumas de nossas cidades não completaram nem mesmo meio século de existência. Entretanto, há de se examinar a razão da falta de um único fio condutor que nos dê o princípio de uma cultura verdadeiramente paranaense e que possa ser identificado em qualquer lugar. A começar pela comida.
Temos em nossa gente tradições que se desencontram e que, de tão preservadas, não se mesclam. Entretanto, como paranaense convicto, creio que é apenas uma questão de tempo para sermos reconhecidos verdadeiramente como nativos deste estado, quer seja pelo sotaque, quer seja pelos costumes. Mas pelo amor de Deus, barreado como nosso prato típico não dá para engolir!
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