Um pedido de Natal
Entra ano e passa ano e a mesma coisa: juro que não escreverei mais sobre o tema Natal. Mas, esta é uma luta inglória, sou um repórter do meu tempo e meu tempo, pelo menos agora, se faz Natal. Vejo isso nos olhinhos vivos da criança que namora brinquedos numa vitrine. Vejo isso, nas propagandas de TV, no movimento do açougue e das ruas.
Mas algo me diz que tudo que acontece não é real. Aqui na minha frente tenho as grandes estatísticas das Nações Unidas e vejo que o mundo é uma grande tragédia transformada em números: quase 1 bilhão de pessoas morrendo de inanição no mundo, uma criança morta de fome a cada 5 segundos...
É, meu amigo... As estatísticas nos são ótimas, pois tragédia traduzida em número quase não dói nada, comove pouco. Os políticos safados já descobriram isso faz tempo. O povo morrendo de fome e doença, mas lá estão eles com números provando exatamente o contrário. Qualquer tragédia na boca desses caras, além de número, torna-se uma oportunidade deles demonstrarem um grande coração ao se comoverem com lágrimas de crocodilo, dizendo que tudo está sendo resolvido, que recursos estão sendo liberados e blá, blá, blá...
Por estas razões resisto em escrever sobre o Natal, pelo lado comercial e demagógico que envolve a data. Entretanto, não posso deixar de lado a grande esperança colocada no Natal por pessoas que realmente desejam o bem de seus semelhantes. Já andei muito pelo mundo e vi que temos entre nós grandes almas, quase sempre discretas, que trabalham para seu semelhante sem esperar até mesmo um obrigado. É certo que vi muita maldade, sujeitos forjados na maldade. Mas não ligo para os artífices do mal. Sei que o mal sempre perde, pode demorar, mas sempre perde. Os maus nunca contam com a grandeza espiritual das pessoas boas e, pequenos, são derrotados por toda parte e sempre.
E é para as almas iluminadas que vale a pena escrever neste Natal, ou em qualquer Natal. Para estas grandes almas que, incógnitas, estão por aí lutando para botar um bocadinho que seja de amor nos corações do homem.
Por isso não vou pedir ou desejar coisas que sei que esqueceremos já nos primeiros minutos do Ano Novo. Não vou pedir presentes para os necessitados. Não vou pedir comida nas mesas dos mais humildes. Peço, e nisso você pode ajudar, para que incluamos em nossas orações estas pessoas de almas iluminadas que trabalham quietas, quase que escondidas, para que o homem melhore de fato e não só de boca para fora. Rezemos para estas pessoas que fazem de suas vidas um sacerdócio para o bem. Pois, quando elas vencerem, e vencerão, não precisaremos mais contabilizar as tristes estatísticas da ONU em nossa ceia de Natal. Não precisaremos mais contar as crianças mortas de fome enquanto que, com fartura, alimentamos nossos filhos. Não precisaremos mais desejar um feliz Natal, porque todos os nossos dias hão de estar repletos do espírito natalino de amor e de bondade infinita.
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A página de Deus na internet
Sou um aficionado pela internet. Pertenço à geração que guarda por máxima aquilo que nem Descartes ousou pensar: “tenho dedos logo existo” (habeo digiti ergo sum). E por esta paixão incondicional e que toma boa parte de minha vida vigiada lá das alturas, lamento certas lacunas encontradas no mundo virtual. O site de Deus, por exemplo, cara importante, mas que não dá a mínima para a cibernética e suas aplicações.
Ele é deveras um sujeito ocupado. Com certeza, cuidar do mundo todinho e contar quantos espirros damos por dia deve tomar um tempão. Pensando nisso e a título de cooperação com o mundo do Divino, desenvolvemos projeto de página virtual para o Todo Poderoso, que poderia ter esse nome mesmo, e ser acessada pelo endereço www.todopoderoso.com.
No conteúdo estático da página, colocaríamos uma breve apresentação com links para a Bíblia – cópias dos afrescos de Michelangelo poderiam dar fundo à página. Ainda no conteúdo estático, links do tipo “fale com a Ouvidoria”, no caso, Jesus. “Fale com o Síndico”, no caso, São Pedro. No mesmo clima do “fale com”, poderíamos lincar o Purgatório, o Limbo e o Inferno – este último meio escondido, para evitar competição ou desvios para sites do próprio mundo terreno.
Uma lojinha virtual para dar conta dos custos da empreitada também seria bem-vinda. “Livros Sagrados”, “Imagens e Ícones”, “Souverniers das Guerras Santas”, “Água do Rio Jordão” e “Retratos do Paraíso” poderiam ser alguns dos itens colocados à disposição dos navegantes crentes.
Também penso em incluir um link para “Notícias do Céu”, sob responsabilidade de São Lucas ou qualquer outro evangelista, mui dignos assessores de imprensa da Casa Celeste. Assim, teríamos mais uma reserva de mercado para os jornalistas, já que as coisas aqui neste vale de lágrimas andam difíceis pra cachorro. (JFN).
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Natal com franguinho na panela
A rigor, as necessidades do homem para se manter vivo são poucas, mas os recursos (mão-de-obra, terra, capital...) para satisfazê-las são escassos. Este é o dilema da Economia, que procura a melhor forma de alocar recursos produtivos finitos para satisfazer as necessidades humanas infinitas.
Nos anos 1960, um psicólogo norte-americano de nome Abraham Harold Maslow (1908–1970) reinventou a roda ao determinar uma escala das necessidades humanas. A escala começava com as fisiológicas – comer, dormir, sexo, etc. –, depois, segurança – a casa, por exemplo –, sociais – clube, grupos de afinidades –, status – sinais exteriores que indiquem nossa posição social, carros, jóias, etc – e por último, a auto-estima – a satisfação plena das necessidades do homem, inclusive intelectuais e espirituais. Digo que Maslow reinventou a roda, porque Voltaire (1694–1778) já havia tratado deste tema no seu Dicionário Filosófico, embora de forma menos detalhada.
Para os capitalistas, a escala de Maslow caiu como uma luva para justificar a crueldade do sistema. Nesta escala ficam claros os “fatores psicológicos” que determinam o consumo dos seres humanos. Quanto mais avançamos na escala, mais sofisticados ficamos, mais artigos supérfluos consumimos. Isto seria o lógico dentro de um cenário favorável, numa economia que nos proporcione renda ou emprego.
Mas nem tudo são flores no jardim da safadeza. Como ainda não descobrimos um método para fazer nascer dinheiro em árvore, é evidente que, em tempos de crise econômica, o consumo dos bens supérfluos, principalmente os que têm alto valor agregado, sofre redução na demanda, porque depende de crédito ao consumidor. E a crise nada mais é do que isso, desconfiança do mercado e pouca oferta de crédito, ou crédito caro, com taxas de juros absurdas.
Ao contrário do que muitos pensam, é de nossa natureza a prudência quando o assunto é o estômago. Pois as nossas necessidades básicas imperam sobre as outras. Resultado, há uma tendência natural de se poupar recursos para tempos que se anunciam para lá de bicudos. Por isso, fico perplexo ao ver tanta besteira em nossos noticiários econômicos. Meus colegas tratam a crise mundial como o fim do mundo e ficam espantados ao verificarem o que acontece no pequeno comércio de varejo, baseado em compras à vista e que continua esbanjando saúde de vaca premiada.
O sucesso do varejo tem uma razão muito simples: ninguém vai parar de comer, se vestir, constituir família e ter filhos. Bocas têm que ser alimentadas, as pessoas hão de continuar se protegendo com roupas, sapatos e usando remédios. Portanto, o que está acontecendo é uma redução nos gastos com coisas que podem ficar para depois. O carro, a geladeira novinha, o fogão zero, tudo isso pode ficar para depois. O que não pode ficar para depois é o arroz, o feijão e o pão nosso de cada dia.
É evidente que, com o desemprego, vamos ter uma redução de consumo dos produtos de subsistência e inevitável queda de preços, pois vamos estar com uma demanda aquém da normal. Em outras épocas isso seria muito preocupante, pois não contávamos com mecanismos sociais que dessem as garantias mínimas ao desempregado. Mas temos hoje o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), Seguro Desemprego e em último caso, o Bolsa Família.
Temos aí, portanto, tempos difíceis a serem vencidos. Mas a despeito do sensacionalismo da imprensa do apocalipse, que na verdade esconde incomensurável ignorância, estamos com o franguinho garantido na panela. O frango deverá contar com um preço de pelo menos 10% abaixo do que no Natal de 2007. E, definitivamente, enquanto tivermos ao menos uma penosa no mundo, ele não acaba!
Nos anos 1960, um psicólogo norte-americano de nome Abraham Harold Maslow (1908–1970) reinventou a roda ao determinar uma escala das necessidades humanas. A escala começava com as fisiológicas – comer, dormir, sexo, etc. –, depois, segurança – a casa, por exemplo –, sociais – clube, grupos de afinidades –, status – sinais exteriores que indiquem nossa posição social, carros, jóias, etc – e por último, a auto-estima – a satisfação plena das necessidades do homem, inclusive intelectuais e espirituais. Digo que Maslow reinventou a roda, porque Voltaire (1694–1778) já havia tratado deste tema no seu Dicionário Filosófico, embora de forma menos detalhada.
Para os capitalistas, a escala de Maslow caiu como uma luva para justificar a crueldade do sistema. Nesta escala ficam claros os “fatores psicológicos” que determinam o consumo dos seres humanos. Quanto mais avançamos na escala, mais sofisticados ficamos, mais artigos supérfluos consumimos. Isto seria o lógico dentro de um cenário favorável, numa economia que nos proporcione renda ou emprego.
Mas nem tudo são flores no jardim da safadeza. Como ainda não descobrimos um método para fazer nascer dinheiro em árvore, é evidente que, em tempos de crise econômica, o consumo dos bens supérfluos, principalmente os que têm alto valor agregado, sofre redução na demanda, porque depende de crédito ao consumidor. E a crise nada mais é do que isso, desconfiança do mercado e pouca oferta de crédito, ou crédito caro, com taxas de juros absurdas.
Ao contrário do que muitos pensam, é de nossa natureza a prudência quando o assunto é o estômago. Pois as nossas necessidades básicas imperam sobre as outras. Resultado, há uma tendência natural de se poupar recursos para tempos que se anunciam para lá de bicudos. Por isso, fico perplexo ao ver tanta besteira em nossos noticiários econômicos. Meus colegas tratam a crise mundial como o fim do mundo e ficam espantados ao verificarem o que acontece no pequeno comércio de varejo, baseado em compras à vista e que continua esbanjando saúde de vaca premiada.
O sucesso do varejo tem uma razão muito simples: ninguém vai parar de comer, se vestir, constituir família e ter filhos. Bocas têm que ser alimentadas, as pessoas hão de continuar se protegendo com roupas, sapatos e usando remédios. Portanto, o que está acontecendo é uma redução nos gastos com coisas que podem ficar para depois. O carro, a geladeira novinha, o fogão zero, tudo isso pode ficar para depois. O que não pode ficar para depois é o arroz, o feijão e o pão nosso de cada dia.
É evidente que, com o desemprego, vamos ter uma redução de consumo dos produtos de subsistência e inevitável queda de preços, pois vamos estar com uma demanda aquém da normal. Em outras épocas isso seria muito preocupante, pois não contávamos com mecanismos sociais que dessem as garantias mínimas ao desempregado. Mas temos hoje o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), Seguro Desemprego e em último caso, o Bolsa Família.
Temos aí, portanto, tempos difíceis a serem vencidos. Mas a despeito do sensacionalismo da imprensa do apocalipse, que na verdade esconde incomensurável ignorância, estamos com o franguinho garantido na panela. O frango deverá contar com um preço de pelo menos 10% abaixo do que no Natal de 2007. E, definitivamente, enquanto tivermos ao menos uma penosa no mundo, ele não acaba!
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Os neo-miseráveis
Creio que boa parte dos miseráveis que habita nosso país é obra única e exclusiva de nossos governos. São miseráveis infelizes gerados pelas nossas ineficazes políticas de distribuição de renda, que sempre privilegiaram minúscula casta social, ou ainda, pela absurda e proposital ignorância imposta ao povo pelo governo – que sempre foi, em qualquer época, mero joguete nas mãos desta casta de privilegiados, os verdadeiros donos do Brasil.
Pois bem, estamos no meio de uma crise econômica mundial e sentimos novamente as forças do atraso tramarem contra a possibilidade de acabarmos definitivamente com a pobreza e conseqüente miséria em que se larga no lombo dos brasileiros. Com a crise, o governo Lula adotou algumas medidas que continuam dando privilégios aos banqueiros e acionistas das fábricas de automóveis. Entretanto, aos trabalhadores que perderam seus empregos, ou estão ameaçados de desemprego, nada foi ofertado. Afinal, o que sempre conta é o lucro crescente, mesmo que obtido com a substituição de mão-de-obra pela máquina que tudo faz e pouco custa.
Nos bancos, este processo de substituição é extremamente visível. Já nas montadoras, fábricas de automóveis, por estarem mais distantes do consumidor, quase não notamos que o mesmo processo está em curso há pelo menos 100 anos. Primeiro no fordismo, com o desenvolvimento da linha de produção e barateamento dos automóveis, depois no toyotismo ao se automatizar o processo produtivo, na mais desumana forma encontrada de exploração de nossos semelhantes, calcada na psicologia que “convence” os operários de que eles também são peças importantes da empresa e por isso devem se dedicar de corpo e alma para o sucesso do empreendimento.
Na realidade, uma lavagem cerebral que desmonta qualquer possibilidade do trabalhador questionar o que está sendo a ele imposto. Ou seja, a base deste discurso sacana se firma no trabalho como um privilégio de poucos e não como um direito de todos. Formamos assim duas classes sociais, a dos miseráveis empregados e a dos miseráveis desempregados. A primeira é tratada pelo capital como uma peça que pode ser substituída a qualquer momento e a segunda, como uma espécie de reserva de votos dos partidos políticos. Partidos que investem na equivocada estratégia da miséria, determinante de uma não menos miserável dependência deste povo para com os programas sociais do governo, como é o caso do Bolsa Família.
Com crise ou sem crise, fato é que os bancos brasileiros continuam enchendo as burras e demitem todos os dias. Já as montadoras preferem continuar com as burras cheias economizando no gasto com pessoal. O estranho disso tudo é que, mesmo com a garantia de recursos oferecida pelo governo Lula, parte das montadoras de automóveis deu férias coletivas a seus empregados. Ontem, em Curitiba, a Volvo anunciou demissão de 430 operários. E isto parece ser só o início do funcionamento de nossas novas fábricas de miseráveis. Até quando vamos continuar a aplaudir as iniciativas do governo Lula que até agora só beneficiou a quem sempre ganhou? E o povo, aquele que acreditou na esperança vencendo o medo, como é que fica? A resposta parece que não é difícil, pois a miséria para o governo parece ser o nosso estado natural, seja ela física, moral ou até mesmo intelectual.
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