A rigor, as necessidades do homem para se manter vivo são poucas, mas os recursos (mão-de-obra, terra, capital...) para satisfazê-las são escassos. Este é o dilema da Economia, que procura a melhor forma de alocar recursos produtivos finitos para satisfazer as necessidades humanas infinitas.
Nos anos 1960, um psicólogo norte-americano de nome Abraham Harold Maslow (1908–1970) reinventou a roda ao determinar uma escala das necessidades humanas. A escala começava com as fisiológicas – comer, dormir, sexo, etc. –, depois, segurança – a casa, por exemplo –, sociais – clube, grupos de afinidades –, status – sinais exteriores que indiquem nossa posição social, carros, jóias, etc – e por último, a auto-estima – a satisfação plena das necessidades do homem, inclusive intelectuais e espirituais. Digo que Maslow reinventou a roda, porque Voltaire (1694–1778) já havia tratado deste tema no seu Dicionário Filosófico, embora de forma menos detalhada.
Para os capitalistas, a escala de Maslow caiu como uma luva para justificar a crueldade do sistema. Nesta escala ficam claros os “fatores psicológicos” que determinam o consumo dos seres humanos. Quanto mais avançamos na escala, mais sofisticados ficamos, mais artigos supérfluos consumimos. Isto seria o lógico dentro de um cenário favorável, numa economia que nos proporcione renda ou emprego.
Mas nem tudo são flores no jardim da safadeza. Como ainda não descobrimos um método para fazer nascer dinheiro em árvore, é evidente que, em tempos de crise econômica, o consumo dos bens supérfluos, principalmente os que têm alto valor agregado, sofre redução na demanda, porque depende de crédito ao consumidor. E a crise nada mais é do que isso, desconfiança do mercado e pouca oferta de crédito, ou crédito caro, com taxas de juros absurdas.
Ao contrário do que muitos pensam, é de nossa natureza a prudência quando o assunto é o estômago. Pois as nossas necessidades básicas imperam sobre as outras. Resultado, há uma tendência natural de se poupar recursos para tempos que se anunciam para lá de bicudos. Por isso, fico perplexo ao ver tanta besteira em nossos noticiários econômicos. Meus colegas tratam a crise mundial como o fim do mundo e ficam espantados ao verificarem o que acontece no pequeno comércio de varejo, baseado em compras à vista e que continua esbanjando saúde de vaca premiada.
O sucesso do varejo tem uma razão muito simples: ninguém vai parar de comer, se vestir, constituir família e ter filhos. Bocas têm que ser alimentadas, as pessoas hão de continuar se protegendo com roupas, sapatos e usando remédios. Portanto, o que está acontecendo é uma redução nos gastos com coisas que podem ficar para depois. O carro, a geladeira novinha, o fogão zero, tudo isso pode ficar para depois. O que não pode ficar para depois é o arroz, o feijão e o pão nosso de cada dia.
É evidente que, com o desemprego, vamos ter uma redução de consumo dos produtos de subsistência e inevitável queda de preços, pois vamos estar com uma demanda aquém da normal. Em outras épocas isso seria muito preocupante, pois não contávamos com mecanismos sociais que dessem as garantias mínimas ao desempregado. Mas temos hoje o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), Seguro Desemprego e em último caso, o Bolsa Família.
Temos aí, portanto, tempos difíceis a serem vencidos. Mas a despeito do sensacionalismo da imprensa do apocalipse, que na verdade esconde incomensurável ignorância, estamos com o franguinho garantido na panela. O frango deverá contar com um preço de pelo menos 10% abaixo do que no Natal de 2007. E, definitivamente, enquanto tivermos ao menos uma penosa no mundo, ele não acaba!
Natal com franguinho na panela
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